Com atos de Lula na China, ameaça comunista deixa de ser apenas teoria da conspiração
Com atos de Lula na China, ameaça comunista deixa de ser apenas teoria da conspiração
14/04/2023 07:33:56
A diplomacia brasileira se consolidou historicamente por seu esforço em se manter neutra. Esse pragmatismo, no entanto, jamais foi capaz de esconder um alinhamento quase automático com a visão ideológica e econômica ocidental. Os mais antigos certamente se lembram de sermos tratados como “quintal dos EUA”, mesmo status a que se submetem quase todos os países do continente americano, do Golfo do México à Patagônia.
Agora, o presidente Lula encontra na viagem à China a oportunidade perfeita para deixar claro suas divergências com os norte-americanos. O presidente tem a certeza de que os ianques não permitirão o desenvolvimento dos países da América do Sul, especialmente o Brasil. O argumento lulista é colaboração de autoridades daquele pais à Operação Lava Jato, com o objetivo de tirar a competitividade internacional das megaconstruturas brasileiras.
A viagem de Lula à China vem dar novas cores ao arranjo planetário que parecia imutável desde a Guerra Fria. Não se trata apenas de dinheiro e relações comerciais. As peças do tabuleiro internacional estão em movimento. A Guerra da Ucrânia provavelmente será vista, no futuro, como um marco da geopolítica e do reequilíbrio entre Ocidente e Oriente.
Nada será como antes, pois as pontes de retirada foram dinamitadas. Resta-nos, como observadores atônitos e à mercê de uma catástrofe nuclear, prestar atenção nas placas tectônicas que estão se movendo neste exato instante.
De Xangai, Lula expôs com clareza alguns paradigmas de sua nova chancelaria: fortalecimento dos Brics, criação de uma moeda comum (em substituição ao dólar) para transações comerciais entre Brasil e China, tentativa de criação de um conselho de países “neutros” para mediar um acordo de paz – que só pode resultar em algum benefício para o criminoso de guerra Vladimir Putin.
Só não vê quem não quer: por mais que o Brasil propague sua soberania e independência, a aproximação com Xi Jinping, e deste com a Rússia, somada às provocações dirigidas à Otan e ao frágil governo Biden, não permitem muita ingenuidade: nosso país está pendendo para um dos lados – e não é o norte-americano.
É um movimento arriscado e precipitado, para não dizer, veremos, estúpido. Não é preciso contratar institutos de pesquisa para saber qual a preferência da imensa maioria dos brasileiros. O lado errado da força está com os ditadores e autocratas. Assim que a opinião pública perceber que a tão conclamada "ameaça comunista" é muito mais complexa que uma teoria da conspiração, o governo Lula há de pagar um preço alto por suas opções e ações ideológicas.
Parafraseando o ditado: é a democracia, estúpido! Tudo indica que a roda da história está girando em alta velocidade. Apertem os cintos.