Vacina oral contra pólio será substituída por versão injetável nos próximos anos
Vacina oral contra pólio será substituída por versão injetável nos próximos anos
16/06/2023 08:24:50
A vacina oral contra a poliomielite, conhecida popularmente como "gotinha", deve ser substituída por uma versão injetável nos próximos anos. A iniciativa é uma forma de reforçar a proteção contra a doença e evitar uma maior propagação do vírus no ambiente.
"A ideia é que, da mesma forma que substituímos as doses do primeiro ano de vida pela pólio inativada [com vírus morto ou apenas partículas dele], as doses de reforço também tendem a ser substituídas por ela. Até que, em algum momento, até 2030, no planejamento da OMS [Organização Mundial da Saúde], não se use mais a vacina oral contra a pólio", explica Isabella Ballalai, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
O imunizante oral contra a poliomielite surgiu por volta de 1960, criado pelo médico Albert Bruce Sabin. A "gotinha", como ficou conhecida, usa o vírus da pólio atenuado — ativo, porém incapaz de produzir a doença.
Segundo Isabella, foi a vacina oral que permitiu a eliminação da poliomielite no Brasil. O Zé Gotinha, símbolo nacional da vacinação, teve grande impacto na disseminação da importância do imunizante — ele foi criado em 1986, e a doença foi erradicada do país em 1990.
No entanto, no atual cenário brasileiro, com as coberturas mais altas e a importância da vacinação mais disseminada, ela deixou de ser a melhor opção.
"O vírus vacinal [atenuado] é eliminado no ambiente pela criança vacinada e pode sofrer mutações — chamamos de vírus derivados da vacina. Quer dizer, não é o vírus selvagem, é um vírus resultado de uma mutação do vírus vacinal. Esse vírus, no ambiente, é o que tem causado surtos em países que já tinham eliminado a pólio, com a queda da cobertura vacinal", alerta Isabella.
Essas baixas coberturas têm deixado crianças, novamente, suscetíveis ao contato com a mutação.
No ano passado, segundo a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), Estados Unidos e Peru registraram um caso de poliomielite cada por poliovírus derivado da vacina, em julho e março, respectivamente.
Nova York chegou a declarar estado de emergência em razão da circulação do vírus da pólio no esgoto do estado.
É para evitar essa disseminação da poliomielite pelo vírus vacinal que a VIP (vacina inativada da poliomielite) será usada integralmente: o imunizante inativado protege contra o poliovírus selvagem e o vírus vacinal da pólio oral e não elimina o patógeno pelas fezes.
"Não é urgente acabar com a pólio oral, mas entende-se que, se temos altas coberturas vacinais e conseguimos eliminar o vírus da pólio do planeta, usar a vacina oral não faz mais sentido. Assim não teremos a possibilidade de vírus derivados no ambiente", afirma.
As atuais coberturas vacinais do Brasil contra a poliomielite estão longe da meta do Ministério da Saúde: 95%. A vacina inativada chegou a apenas 45,33% das crianças, enquanto a gotinha atingiu 34,39% do público-alvo.
A iniciativa ainda não tem data para ser integrada, mas deve se tornar uma realidade até 2030. O Ministério da Saúde irá avaliar as formas de organização do novo esquema vacinal, que depende, por exemplo, da epidemiologia local.
Atualmente, a vacina inativada contra pólio é aplicada em três doses: aos 2, 4 e 6 meses de vida do bebê. A VOP (vacina oral poliomielite), usada como reforço, acontece em duas doses — ao total, quatro gotinhas —, entre 15 e 18 meses e entre 4 e 6 anos.