Ibiapaba FM 98,1 - Caetano Veloso entrega carta ao papa Francisco com apelo de ajuda contra violência na Bahia

Caetano Veloso entrega carta ao papa Francisco com apelo de ajuda contra violência na Bahia

Ela lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota.


29/09/2023 08:32:43

O Papa Francisco recebeu em audiência o cantor Caetano Veloso nesta quinta-feira, 28. Em turnê pela Europa com o show “Meu Coco”, o cantor, junto com sua esposa, Paula Lavigne, foi ao Vaticano receber a bênção do Pontífice.

Na ocasião, o artista brasileiro deu uma carta ao Papa, em que partilha sua preocupação com a escalada da violência no Estado da Bahia e fala da religiosidade de sua mãe, Dona Canô, falecida em 2012.

Na última quarta-feira, 28, Caetano fez apresentação única na Itália, o show ocorreu no “Parco della Musica”, em Roma. Caetano é vencedor de 13 Latin Grammy e dois Grammy Award na categoria Best World Music Album.

É com alegria especial que chego aqui, na Santa Sé, para este encontro. Sou da cidade de Santo Amaro da Purificação. E desde menino acompanhava encantado a minha mãe, Dona Canô, com seus gestos de simplicidade, afeto e sabedoria.

Ela lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota.

Em 2007, na festa do centenário dela, a família, amigos e a cidade de Santo Amaro promoveram durante o ano uma série de homenagens à dona Canô. E o que nela provocou maior emoção foi a Igreja da Purificação receber a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.

É com esses ensinamentos de paz que chego aqui, diante de Vossa Santidade.

Nesses 10 anos de pontificado do primeiro Papa da América Latina, jesuíta e de nome Francisco, tenho acompanhado suas posições denunciando injustiças, alertando para a situação dos migrantes e sendo o autor da primeira encíclica ambiental: Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum. O texto é uma advertência necessária sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas.

Santo Padre, onde moro, na cidade do Rio de Janeiro, a violência atingiu índices iguais aos das grandes guerras pelo mundo. E o pior: vitimando cada vez mais crianças. A lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra. Só este ano, 10 crianças morreram dessa forma.

Recentemente, entrou nesta estatística a menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa, no Morro do Dendê, comunidade da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.

As vítimas têm em comum o fato de terem tido uma morte repentina enquanto viviam seus cotidianos. Com idades entre 9 e 13 anos. A chamada “guerra às drogas” até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas. Mas o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer.

A violência também tomou conta da Bahia, estado em que nasci há 81 anos.

Estou assustado ao constatar que – apenas nestes primeiros 24 dias de setembro – já foram registradas pelo menos 46 mortes em confrontos policiais em todo o estado.

A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês. Essas mortes aconteceram principalmente em bairros periféricos de Salvador, como Alto das Pombas, Calabar, Valéria e Águas Claras.

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